31 de mai de 2015
Temporais, com Rogério Germani
TEMPORAIS
Dentro de mim,
raso feito segunda camada,
há um poço
lugar discreto onde guardo lágrimas
há em suas escoras
algumas lembranças tristes
alguns cantos íntimos
onde a alma( quando lança-
se
em temporais)
não mais chora
evapora.
Rogério Germani
Precisa-se!, por Márcia Poesia de Sá
Precisa-se !
Precisa-se de pão
e água para fazê-lo descer
os abismos da traqueia
Precisa-se de rios e matas
para ter a água
que fará descer o pão
Precisa-se de terras
para plantar o trigo que
fará o pão
bem,
Precisa-se de flores
para colorir os olhos
já as flores
precisam de espinhos
para protegê-las
os espinhos?
precisam de dedos
para perfurarem-se neles...
Precisa-se
de manga para cobrir
os braços do sol
Precisa-se de sol !
Ufa, precisa-se
da galáxia
para se ter sol
que vai dourar o trigo
que fará o pão
que irá entalar
na goela do mundo.
Precisa-se de coragem
para erguer o manto da noite
e depois de sonhos
para fazer os buraquinhos nele
que ao vermos de longe
parecem estrelas
É, precisa-se de estrelas
e de cometas
...e de piões
e lampiões!
Precisa-se de tudo
para ao final
não se precisar de nada
Precisa-se do toque
do buquê
dos beijos
das bençãos
Precisa-se de algo para abençoar
Precisa-se de mar
o mar, precisa dos pescadores
os pescadores, dos peixes
os peixes, precisam das sereias
e as sereias precisam
dos navegantes desavisados.
Os cargueiros precisam de profundidade
o fundo precisa de escuridão
a vida precisa é de perdão
e o poeta precisa da dor
a dor, precisa do relógio
o relógio ...
precisa muito mesmo do tempo !
já o tempo
é um tanto atrevido
e vive dizendo
que não precisa de ninguém
mas mente!
O tempo precisa do pão
E o pão precisa do tempo
desde quando era só massa crua
até dourar ...
O dourado
precisa do luar
e um luar perfumado
igual aquele
que vou pintar num quadro
quando eu finalmente decidir
o que preciso.
É difícil listar
o que eu preciso ...
acho que ando
muito precisada
de quando...
Márcia Poesia de Sá
28 de mai de 2015
Chuvisco, por Marisa Schmidt
CHUVISCO
Tempo passa, passatempo
chuva cai em modo lento
coração em fogo brando
cria fumaça e brumas
chuvisco é tênue espuma
se desmanchando na areia
Passa o tempo neste dia
no ritmo da garoa fria
no compasso da lembrança
enquanto o escuro avança
no jardim molhado e sem lua
uma flor noturna insinua
o perfume de um velho poema.
Noite chuvosa sempre é tema
de misteriosa volta ao passado
numa viagem estática e silenciosa
cujo trem é a alma ociosa,
a saudade solitária passageira
e a paisagem é a vida inteira...
Marisa Schmidt
25 de mai de 2015
Marisa Schmidt em "Eterno Fogo"
Percorro os velhos caminhos
salpicados de novas pedras
entre a paz e o desassossego
que por conhecido não medra
o medo, ancestral torvelinho
pondo ondas em estreito rego
São os caminhos de sempre
onde situo cada facho de luz
e suas veredas assombrosas
Tudo está lá,e conforme supus
o eterno fogo em seu trempe
cozinha esperanças saborosas
Nos tempos vários, nada é novo
para quem é velha caminhante
deste mundo vivido por dentro
onde sempre se segue adiante
e na tangência que se faz centro
a cada passo uma pedra removo...
Marisa Schmidt
Márcia Poesia de Sá em "Anzol"
Rogério Germani em "Espécie de Nuvem"
Se todos os peixes soubessem da verdade que desemboca
na foz das lágrimas dos seres
talvez eles ( por piedade) viveriam na copa das árvores
longe das águas salobras e do triste reflexo de seus criadores.
De fato, as marés se alimentam de luas
mas são as criaturas e suas almas em fases que põem canto e sabor
no ilogismo dos pingos bravios.
Também pertenço a mesma espécie de nuvem
e, quando chovo, além de aquários que transbordam versos
no fim de cada fado, estendo imprecisos arco-íris nas margens cúmplices
[dos rios
só para que os vermes de Deus abençoem os dias sombrios que estendem
brancas toalhas em piqueniques solitários.
Rogério Germani
Nenhum Roberto
Eu, coisa
24 de mai de 2015
Não há sentido para o sentido - Márcia Poesia de Sá
Não há sentido
para o sentido.
O sentido, sente ao contrário
é subterfúgio de dentro do armário
- Coisas acumuladas e poeiras?
- Não, o sentido se perde
por não compreender de eternidades...
Não há sentido para o sentido
pois se tivestes, sempre terás
não existe o ter tido!
Como memória de um perfume
exala por séculos e séculos
corre campos abertos
quando a saudade a proclama
Não há sentido para o sentido
quando o sentido é tão profundo
que enraizado no umbigo do mundo
floresce todos os dias, um novo botão
Sentir é maior que o simples ter
tem magia escorrendo pelas paredes
pelas portas que se abriram e abrem
pelos lençóis, lenços e talheres
e até por debaixo das mesas
(só para mim, isto fez sentido)
E uma profundidade abissal nos olhares...
Não há sentido só quando
não foi inteiramente sentido...
Os sentimentos são flechas
que navegam nossos infinitos.
(Há) de se saber sentir
e compreender intimamente o que é sentido
sem ficar sentido com grãos de areia
quando há um mar esperando
o nosso sentir...
Ser um ser sentido
tem vários sentidos...
Márcia Poesia de Sá.
Rogério Germani em “Inverno”
Inverno
Dependurado no galho de uma árvore, no alto da colina, ele admira a placidez da cidade. Nem mesmo a corda envolta em seu pescoço se destoa do silêncio que invade a noite e as entranhas das casas que abrigam o povoadoque, crédulo, hiberna por ventos de nova esperança.
As ruas estão vazias. As folhas secas dançam nos olhos dos gatos que miam, ouriçados, ao toque de recolher da lua. Fechadas as portas, as lojas lembram tristes mausoléus esperando a voz de seus donos para novamente alimentarem seus cômodos com a presença viva de seus clientes.
Neste cenário onde a sombra do voo deuma ave seria uma milagre rasgando o deserto, seus olhos passeiam livres de pecados. Sua alma corre solta, rente às nuvens, e pousa nas frestas das janelas trancafiadas. Não há furtos ou assombros; apenas um último olhar às suas origens, seus pactos de infância que, por ironia da vida, jamais serão cumpridos na fase adulta.
Ao lado da árvore onde, agora, seu corpo balança feito um aceno de um farol a um barco de sonhos, uma fotografia rasgada, um nome de menina riscado com sangue e perfume de lágrimas recentes: tesouros de um amor ceifado aos doze anos.
Enquanto ele se despede da terra que fez brotar versos, flores e dor em seu peito, outros anjos o aguardamem meio a uma chuva que se inicia. Não há sorrisos ou luz divina em seus semblantes; de seus dedos, correm fúria e neve. E quando estão zangados, os ossos da cidade congelam.
Rogério Germani
Rogério Germani em “Ausência”
Ausência
Tatuado nas nuvens
seu sorriso ainda transita em meus silêncios
encontro na plumagem de certos pássaros
o hálito de seus suspiros,
atento no sol a leveza de seus gestos numa dança
de alma nua
cada flor ainda assimila os versos de seus olhos
do mesmo modo que meu corpo reflete nas águas calmas
a imagem de sua ausência.
Rogério Germani
Tim Soares em "Da libertação do corpo"
Da libertação do corpo
Livre,
ser livre da prisão matéria
Da dor
que me é contemporânea
Do navegar
na cólera instantânea
Que pulsa
e arde na vulgar artéria
É o eufórico
e calmo fim da linha
Minha renúncia
é sedutora urgência
E o despertar
da pura essência
Que minha carne
refém mantinha.
23 de mai de 2015
Marisa Schmidt em "É preciso o silêncio"
É PRECISO O SILÊNCIO
O silêncio ainda espreitando o vozerio
pede uma trégua no zumzum constante
apenas um hiato no desconforto gritante
onde o silêncio seja um calmante desafio
Que seja só um momento sem palavras
sem ruídos sem gritos ou rumores vãos
em que se repousem serenas as mãos
e o olhar vagueie por silentes aldravas
É preciso que se ouça cada folha que cai
e o mar que abraça os rochedos em gozo
nas límpidas manhãs do começo do outono
Uma canção ancestral que pela mente vai
servirá de guia a esse encontro silencioso
entre a alma e o universo, a casa sem dono.
Marisa Schmidt
O Arquivo e a Verve - e-book de Wasil Sacharuk
Escorpião - versos autobiográficos - e-book de Wasil Sacharuk

Lembro que olhei atentamente para aquele avatar de cabelos longos, olhar severo e o conjunto me levou a um desses guerrilheiros que se perderam nas selvas da América do Sul à década de 70, afinal sempre fora desconfiados com os cabeludos apesar de ter sido um nos tempos do Led Zeppelin.
Olhei novamente para a pequena foto que carregava abaixo o nome de Wasil Sacharuk. e me pareceu evidente que ali o intelecto de um revolucionário se mantinha oculto sob a vastidão dos cabelos castanhos.
Porém Wasil não era um revolucionário das armas assim como os uruguaios do Tupamaros. Não, na guerrilha de Sacharuk não se deflagravam tiros e nem se era picado por cobras ou saciado da sede por riachos que riscavam as florestas, pois os projéteis da revolução de Wasil nada mais são que as linhas da poesia.
Recordo ainda que nos primeiros textos ali postados pude perceber-lhe o traço e a verve do inspirado, uma escrita pujante e contundente grafando prosas e poesias por vezes no esmero do sotaque sulista do seu Rio Grande do Sul.
Sim, não seria menos verdadeiro confessar que em algumas oportunidades procurei na internet a tradução paras alguns termos gauchescos para poder compreender e a assimilar a grandeza das suas construções.
Lembro também que Wasil foi o primeiro artista a quem me interessou o trabalho com a produção de vídeo-poema. Recordo também que o primeiro seu que vi foi (É a verve) e o seu trabalho me deixou maluco tal o esmero que fora produzido, pois além das filmagens e edições ficava por sua conta a declamação, efeitos sonoros e a trilha musical. E fiquei tão impressionado que pedi para ele que fizesse um vídeo para um poema meu, diga-se, generosamente ele o fez e me presenteou, e é algo que até hoje me encanta e honra tal a perfeição do aspecto visual, narrativo e a trilha sonora composta por ele.
Enfim, não há como falar de Wasil Sacharuk sem traduzi-lo em arte, afinal ele é uma das prazerosas manifestações dela.
Pois, imenso é meu orgulho ao ser companheiro de letras deste magnífico poeta e prosador.
Parabéns Wasil Sacharuk!"
Veio china

e-book “Escorpião – versos autobiográficos, de WASIL SACHARUK
R$ 8,88
Acrósticos - e-book de Wasil Sacharuk

Águas Claras
Ah, se as marés são das luas
Gelarás bem coesa em cristais
Utópicas moléculas espúrias
Águas sujas em mananciais
Sequestradas na boca das ruas
Claras não são sempre as águas
Lacrimais vertentes de oceanos
Águas que empurram as mágoas
Rompendo ribeirões pelos canos
Assim que somente deságuas
Seus correntes instintos insanos.
E-book “Acrósticos”, de Wasil Sacharuk
R$ 6,66
73 páginas
receba diretamente em seu e-mail
22 de mai de 2015
ENVIE SEU TEXTO - Venha escrever conosco
INSPIRATURAS quer compor um pequeno time de escritores fixos, em prosa e poesia. Para tal, inicalmente receberemos material para publicação em nosso site com a finalidade de selecionar um pequeno grupo para colaborar efetivamente em www.inspiraturas.com.
Alguns critérios devem ser considerados:
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Sejam bem-vindos á INSPIRATURAS – Escrita Criativa!
15 de mai de 2015
E O PALHAÇO O QUE É?...
